sexta-feira, 13 de maio de 2011

O que o Basquete tem a Aprender com Franca e Flamengo

Por Ketty Elizabeth Benkendorf

A cerca de uma semana uma nova era começou para o NBB e não estou exagerando. A menos de uma semana, quando iniciou a série semi-final desta terceira edição foi possível ver nascer um novo campeão. Franca, que na fase classificatória terminou na primeira colocação(apesar da mesma campanha com as 3 equipes seguintes), decidida apenas na última rodada, não se intimidou ao ter pela frente um adversário ingrato, o Flamengo. Aquele que por três anos consecutivos disputou a final Nacional, sagrando-se campeão por duas vezes e alcançando um vice-campeonato na última edição.

Mesmo conhecendo o extenso currículo de seus jogadores e a gama de qualificações e títulos que seu oponente acumulava, Franca simplesmente fez o que sempre fez: jogou basquete. O tempo foi seu grande aliado, pois permitiu que a cada rodada o time se encaixasse e fosse gradativamente crescendo, permitindo que nessa fase tão delicada e decisiva alcançasse seu auge. Méritos de seu treinador que conhece como ninguém a equipe que tem nas mãos e lógico aos jogadores, que são disciplinados, talentosos e sabem trabalhar muito bem em conjunto.

Confesso, pensava que teria 5 jogos para assistir dessa semi final mas Franca me surpreendeu ao alcançar um feito histórico. Não só acabou com a possibilidade do Flamengo ir para sua 4º final seguida(incluindo o Campeonato Nacional de 2008), como venceu-o em uma fase de playoffs por 3x0 - algo que acredito, nem os próprios francanos imaginavam, e talvez por essa humildade, por se preocupar com um jogo de cada vez, por não se precipitarem em cantar vitória antes do tempo alcançaram essa vaga na final.

Franca é uma cidade onde o basquete é o esporte número um e acredito que por isso não vi “flamenguistas” tremulando suas bandeiras de “urubuzada” nem cantando seus gritos de guerra ultrapassados. Talvez porque Franca é uma cidade onde literalmente os corações batem ao ritmo do quicar da bola e para quem está de fora e nunca teve a oportunidade de estar lá, quero dizer que é essa a sensação que passam.

Pensar em basquete é pensar em Franca, porque quero crer que hoje com o basquete voltando à evidência, qualquer equipe sonha em lotar um ginásio como essa equipe lotou, principalmente nessa última partida e também em ter tanta fidelidade e união. Eu, Joinville de coração, posso dizer que aprendi a amar o basquete com a equipe da minha cidade, que amo, respeito e tenho o maior orgulho de seguir. Mas Franca me ensinou que o tempo e a experiência permite que as coisas aconteçam e que isso faz uma enorme diferença. Agora posso realmente dizer que sonho com meu Joinville alcançando o nível de respeito e admiração nacional que o Franca possui e que possa ter uma estrutura tão bonita e digna como essa cidade.

Voltando à série surpreendente de Franca x Flamengo, todos os jogos foram sensacionais. Helinho, Benite, Dedé, Penna, Marcio e Cia... que grupo sensacional e que se completa perfeitamente. Em todas as partidas, por maiores que parecessem as dificuldades, Franca comandou e administrou muito bem suas reações e suas vantagens. De todos, para mim o terceiro da série foi sem dúvida aquele que colocou um ponto final da dinastia flamenguista e mostrou o que é uma equipe de verdade, não apenas por ser o último com a vitória de Franca, mas porque foi um jogo onde Franca foi imensamente superior.

Ontem Franca simplesmente mandou do jogo do início ao fim. Nos dois primeiros minutos até parecia que o Flamengo tinha vindo para “quebrar tudo”. Fez alguns belos pontos, escapou da marcação e sumiu. Franca por sua vez manteve-se no jogo, focado, atento e seguro, e tendo a torcida a seu favor começou a abrir vantagem. As impressionantes e certeiras bolas de 3 pontos faziam o placar crescer quando as infiltrações pareciam difíceis ou quando o Flamengo esboçava uma reação.

Essa equipe soube conduzir a partida sem perder a cabeça, sem concentrar as bolas na mão de apenas um jogador e deu liberdade a todos para trabalhar a bola e encontrar o melhor momento para o arremesso, fato esse que contribuiu consideravelmente para o sucesso na pontuação. Do outro lado uma equipe quase juvenil, despreparada. Fazendo face de experiente(e que na teoria realmente o é), mas se mostrando inconstante, desequilibrada e muito dependente de apenas um jogador. Eis o ponto aonde gostaria de chegar.

Quando entitulei esse texto foi porque ao observar a sequência de situações, principalmente desse último jogo percebi dentro do meu pequeno conhecimento sobre basquete que apesar das aparências existiu um abismo entre essas duas equipes. Deste modo nos permite perceber o que dá certo e o que não dá, o que é importante e o que não, o que deve-se tomar e agregar valor e o que está ultrapassado.

Franca foi uma equipe que teve seus altos e baixos durante o campeonato, porém foi aparando as arestas e conduzindo seus atletas para um único caminho. Com vitórias importantes alcançou a desejada primeira colocação na fase de classificação. Veio para os playoffs muito mais concisa e segura, fato que permitiu alcançar a vaga na fase final de forma invicta. A equipe soube trabalhar seus jogadores de forma a extrair o melhor de cada um e soube valorizar e dar espaço aqueles que vinham se destacando e que também não decepcionaram, pelo contrário, converteram o aumento de seu tempo em quadra em pontos, além de contribuições em outros fundamentos.

O basquete francano foi imensamente superior ao permitir que todos que estivessem em quadra pudessem dar sua contribuição. E eis o segredo - na minha modesta opinião, do sucesso: ter uma equipe que sabe criar oportunidade, jogar coletivamente, com bom trabalho de bola, evitando a precipitação e arremessos desequilibrados. Essa equipe entrou em quadra para jogar consciente das dificuldades que enfrentariam, mas ainda mais confiantes em sua capacidade, o que os permitiu ter segurança para desempenhar suas funções, jogar leve e com tranqüilidade para armar ataques, fechar a defesa e finalizar com precisão os arremessos.

Do outro lado vimos o que muito já diziam ser incorreto, mas que sempre tinha dado certo até aqui: colocar a bola na mão do Marcelinho para ele decidir. Após disputar 3 finais o Flamengo mostrou que está ultrapassado e mal acostumado. Nessa série mostrou um basquete pobre, agressivo e desiquilibrado, onde tudo se resumia a deixar o camisa 4 arremessar, mas basquete é jogo coletivo e são 5x5. Não dá para jogar sozinho e assim, finalmente caiu a máxima de deixá-lo resolver tudo. Marcelinho não é e nunca foi um herói. Ainda por cima, tentou manchar a bela conquista da equipe de Franca, dentro de sua própria casa, invocando um respeito que ele mesmo não possui.

Assim, quando disse que havia um grande abismo entre Franca e Flamengo é porque Franca jogou basquete, enquanto o Flamengo queria apenas o resultado, não importa como isso fosse acontecer. E se afirmo que o basquete tem muito a aprender com o confronto dessas duas equipes é porque Franca é aquela equipe onde todos que amam basquete deveriam observar, seguir e admirar e porque ao mostrar o verdadeiro basquete, bem jogado, limpo e bom de se acompanhar varreu esse time cheio de “estrelas” que acabaram por ofuscar umas as outras com seus ataques de estrelismo e infantilidade, com seu destempero e sua falta de humildade, não entendendo que o basquete não gira em torno deles, mesmo que eles achassem que girava. O esporte tem a aprender com o Flamengo o que não se deve fazer, o que não condiz com a prática esportiva, e que por mais que demore a justiça acontece, a impunidade não dura para sempre, mesmo que não seja pelos meios legais.

Não podemos deixar que o basquete e o esporte como um todo seja contaminado por esse tipo de atitude antidesportiva e de soberba. Ninguem é melhor do que ninguém, e quando se entra na quadra para jogar, ganhar ou perder é conseqüência e você enquanto atleta precisa estar preparado para isso. Não é ficar arranjando desculpas para validar suas atitudes, o mundo do esporte efetivamente não pode girar em torno de pessoas que tem talento de sobra, mas acabam usando isso na contra mão do esporte, tornando-se péssimos exemplos para crianças e adolescentes e para a sociedade como um todo, que não pode ficar achando que alguns estão acima de julgamentos e punições. Esporte é formação, é caráter, cidadania, respeito e disciplina, e qualquer coisa diferente dessa postura não pode ser bem vinda, tão pouco valorizada e defendida.

Portanto, um campeonato equilibrado como foi desde o começo essa edição do NBB só deveria nos render uma grata surpresa como essa, porque afinal de contas mudanças são necessárias e bem vindas, e já era hora de outra equipe ter a chance de disputar a taça e fazer história. Com certeza essa noite Franca escreveu um importante capítulo na sua já vitoriosa e inigualável história e tem todos os predicados para chegar ainda mais longe. Torço para que esse momento seja uma oportunidade para o basquete pensar em que tipo de equipe ele quer promover, se um Franca ou um Flamengo. Eu sinceramente desejo que muitos Francas se proliferem por todo o Brasil para garantir a nós, amantes do basquete, sempre um espetáculo de técnica, força e habilidade, onde prevaleça a dignidade, o respeito e a coletividade, onde ninguém seja supervalorizado ou subestimado, onde todos tenham um único objetivo: o basquete.

Parabéns Franca, primeiro e inquestionável finalista do 3º NBB.

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